quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Mulher na Polícia

O texto abaixo é do blog http://mulhernapolicia.blogspot.com/ que é maravilhoso. E ela escreve super bem e cativa a todos que visitam seu blog.


Decidi que quero fazer um curso de operações especiais. Um curso pauleira desses do COT, do BOPE, do CORE, sei lá, qualquer um serve. Me disseram que esses cursos trabalham bem a parte emocional da pessoa, a resistência psicológica e física. Decidi que quero ser caveira! Porque caveira que é caveira de verdade nunca se rende. É disso que eu preciso, porque estou cansada. Quero ter um coração bombado, daqueles que nunca se entregam e nunca te traem. Um coração endurecido feito pedra pra nunca mais me apaixonar por homem nenhum nesse mundo.

É bem verdade que sempre critiquei esses cursos onde o aluno apanha e é humilhado pelos instrutores. Palhaçada isso de raspar a cabeça. Dizer que "o que não me mata me fortalece" sempre me pareceu propaganda ideológica do sistema. Nunca gostei de Nietzsche. Agora mudei de ideia. Quero fazer um curso da-que-les onde o pau quebra, onde rola solta a pancadaria. Dignidade pra quê, né? Como se pudesse existir algo pior do que acordar de madrugada e não poder sentir você dormindo ao meu lado. Eu quero apanhar na cara e sentir gosto de sangue na boca, se isso me ajudar a esquecer seu gosto de vez. É o caso clássico de levar uma surra pra deixar de ser otária. E de pensar que eu me achava inteligente quando você ria das minhas piadas sarcásticas, irônicas. Descobri que a piada era eu... Meu coração é traiçoeiro e mais uma vez conseguiu me expor ao ridículo. Entenda, coração, que se é pra sofrer quero sofrer bonito. Por que não? Preto sempre me caiu muito bem. Faca na caveira!

Quando eu era pequena e sentia dor de cabeça eu deitava no colo da minha mãe e ela colocava uma das mãos sobre os meus olhos e fazia uma oração pra Deus. Aí era só esperar um pouquinho que a dor passava. Não sei o que houve, mas hoje o colo dela não me cabe mais. E nada do que ela me fala resolve coisa nenhuma. Agora perdi o teu colo também. Você sempre soube aliviar as minhas dores. Preciso fazer um curso onde eu experimente outros tipos de dor pra esquecer esta. Quero apanhar até perder a consciência, quero apagar. Até esquecer que você me chamava de "florzinha". Quero apagar da memória o timbre grave da tua voz cantarolando neste apartamento. Eu tô cansada demais. Quero apagar agora! Nenhuma ralação em treinamento deve ser pior do que pensar que acreditei que você me amava. Não pode ser pior do que você ligar pra sua melhor amiga às duas horas da manhã dizendo que você está sentindo uma dor insuportável ao respirar e ela mandar você dormir porque precisa acordar cedo no dia seguinte. Hoje chorei no único ombro que me apareceu. Aquela que me persegue aqui na delegacia foi quem se esforçou pra me consolar quando explodi em lágrimas de desespero. E eu que jurei que essa mulher jamais me veria chorar. Não deu pra segurar! Ela percebeu, me chamou e perguntou. Não soube o que responder, mas ela já entendeu tudo. A que nível eu cheguei? É por isso que eu digo que esse sofrimentozinho de treinamento é "fichinha" perto da falta que me faz a tua perna jogada em cima de mim e os sons que você fazia quando me amava, e me invadia, e me acalmava. Quero apagar agora, porque não suporto mais isso.

Eu tento, mas esse final de semana foi crítico. Liguei pra um grande amigo e pedi pra ele sair comigo. É uns quinze, vinte anos mais velho que eu e me conhece desde meus onze anos. É meu confidente, contei tudo pra ele. Olha... a minha carência afetiva pareceu-me tão preocupante que mesmo que nunca-antes-na-história-deste-país eu tivesse sentido qualquer sinal de atração física por ele, a gente quase ficou no sábado! Inacreditável, mas se ele me desse um único sinal de que estava a fim de se aproveitar da situação acho que eu teria deixado rolar. Porque eu tava muito afim e com muita raiva, mesmo. Medo. Nunca fui de ficar pra afogar as mágoas. Acho muito fraco esse tipo de mulher. Já sei que estou a perigo e que preciso me proteger... Maldito feromônio! Escuta aqui, mas escuta bem, vou raspar a cabeça e pintar a cara de preto. Quero ser caveira!

No domingo, implorei ajuda a uma grande amiga de adolescência que adoro e que testemunhou a nossa história desde o início. Nós duas até namoramos os mesmos caras (não ao mesmo tempo, claro, né!). Tanto é que ela tá casada com o meu primeiro namorado. Saímos pra conversar. Eu tinha certeza que se alguém nesse mundo poderia me ajudar a passar melhor por isso era ela que me conhece, talvez, até melhor que eu mesma. A gente pediu suco de abacaxi com hortelã. Zero açúcar, zero álcool e zero calmante até o momento. Quando ela tocou com habilidade cirúrgica no ponto nevrálgico da minha dor eu me calei. Senti que a coisa seria mesmo sem anestesia. Me lembrei qua a única vez que vi minha mãe de porre foi por causa do meu pai. E me senti íntima de todos os bêbados e noiados que já desprezei pela vida afora. Me deu vontade de abraçar a cada um e dizer "eu te entendo, meu amigo". Não consegui dizer nada, não consegui chorar não consegui olhar pra ela, não consegui esboçar nenhuma reação. Colei as placas! Travei nas quatro rodas... E ela foi super amorosa comigo, mas não adiantou nada porque eu não consegui deixar que ela me ajudasse. Tava doendo demais. Ela entendeu que precisava encerrar a "sessão" (Hum rum... ela é psicóloga). Antes de ela descer do carro, a gente se despediu, ela me abraçou, tadinha, e chorou comigo. Eu vim embora. E essa porcaria dessa dor veio no carro comigo.

Meu pai vai soltar foguetes quando souber. Você não era o tipo de cara que ele sonhou pra mim. Nosso relacionamento faz parte dos motivos pelos quais ele se decepcionou com a família. Não quero nem ver o meu pai. Ele vai jogar na minha cara toda a indiferença com que reagi quando ele se separou da minha mãe. Fui rasa nesse dia como quem diz "eu te avisei, pai, a culpa é só sua". À época isso me parecia tão verdade, hoje eu já nem sei mais. Ele vai me perguntar onde foi que a "dona da verdade" a "expert" em vida a dois falhou. E essa é a pergunta mais difícil de toda a minha vida. E eu vou ter que reconhecer que eu não sou diferente dele. Que nenhum de nós dois sabe manter um relacionamento e que tenho mais do meu pai em mim do que eu gostaria de ter. "Tá bom, pai, você venceu e a princesinha aqui falhou". Somos dois fracassados e ainda não tenho idéia de como vou explicar isso para o "Pequeno Terroristazinho" quando ele me perguntar.

Meu chefe perguntou se eu precisava de umas folgas. Mas folga pra quê? Pra ir chorar em casa? Já tenho a madrugada toda pra chorar. Mas bem que ele poderia me mandar para os confins da Amazônia pra eu fazer um curso de sobrevivência na selva! Sei que sou 100% operações urbanas (tradução: desculpa gente, mas não gosto de roça, não gosto de cobra, não gosto de inseto e evito pisar em cidade onde não tem Mac Donald's). Mas agora quero fazer um curso de sobrevivência na selva. Onde eu não possa encontrar nenhum papel contendo a sua letrinha executiva. Não acho ambiente pra mim. Não consigo respirar, porque doi. Esse bando de caveira de preto, careca e bombado deve ter algum segredo. Deve ter algum sentido maior em tomar porrada, passar fome, frio e medo até a exaustão, até conhecer o seu limite e apagar. Deve ser um alívio apagar. Não quero sentir mais nada, só um pouco de alívio. Quero esquecer o jeito como você promovia os pratos que preparava para que eu resolvesse comer nem que fosse só um pouquinho. Quero me empanturrar de raízes amargas. Quero aprender a sobreviver sozinha. Porque amarga é a falta violenta que sinto da sua barba, de te puxar impaciente pela gravata, da sua força apertando o meu braço. Me faz mal essa vontade ardente de escalar o teu corpo e de desaparecer do mundo embaixo de você. Mas agora é comigo. Eu vou sobreviver sem você, pode apostar. Vou raspar a cabeça e pintar a cara de preto. Combina demais comigo.

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O conselho que deixei nos comentários do blog dela foi o seguinte:

Amiga sobe no salto, pistola em punho e vamos à caça... kkk

Quantas paixões já se foram???

E hoje quando essas pessoas cruzam o nosso caminho fica a pergunta: para que tanto sofrimento se hoje essa pessoa é apenas mais um na multidão???

Sempre digo que devemos sofrer apenas o necessário...

E muitas vezes algo melhor nos aguarda...

E teremos a certeza que tudo aconteceu como deveria ter sido...

Por isso vamos em frente que a fila anda...

Ou quem sabe a nossa amiga já voltou com o amado e deve agora estar cantando: Alô paixão, Alô, doçura, doce ilusão, de um coração!!!


14 comentários:

  1. Ana,
    Gostei tanto do post que fui até a "Mulher na Polícia", realmente é muito bom o blog. Mais uma vez agradeço por sua dica.
    um abraço
    Dinorah

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  2. Ana amei o texto
    Já chorei muita madrugada a fora e já tomei muitos porres por amor. Só quem sente a dor sabe como é

    Abraços do amigo

    Ah eu vou visitar o blog
    Obrigado!

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  3. Sofrer por amor é dose.... É uma dor indescritível. Aniway, por mais bizarro que pareça foi essa dor que fez com que eu esteja hoje com a pessoa que me ama de verdade :B
    Toda dor nos traz lições e são elas que nos evoluem.

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  4. Oi, minha linda!!!

    Quanta honra!!!

    Nossa, não sabia que vc poderia ter gostado tando desse texto não. Muito obrigada pelo carinho, pelo prestígio e por essa alegria que me foi proporcionada.

    Flor, eu ainda tenho esperanças de reatar...

    Um beijo!

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  5. Que texto bárbaro, um desabafo de leoa. E sai de baixo que o agora o bicho vai pergar! Valeu pela dica burrica.
    Bj

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  6. Ao encontrar seu site foi dificil de sair sem ler sua postagem.
    Que texto bélissimo.
    E pensar que muitas vezes achamos que ja tinhamos lido tudo de bom nessa vida.
    Entrei seguindo você e carinhosamente convido a seguir-me também tudo que é bom queremos perto de nós.
    Um feliz final de semana beijos no coração,,Evanir
    www.fonte-amor.zip.net
    Foi bom demais te conhecer..

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  7. o blog mulher na polícia é fantástico mesmo, entrei e nunca mais saí, aquilo lá vicia gente, um vício bom!!!!

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  8. Eu adoro esse texto.
    A gente quase 'sangra' com ela...
    (:

    bjo

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  9. Amiga...

    A Regina e a Lê são minhas "Atiradoras de Elite".
    A Regina é Agente de Trânsito... (de parar o trânsito rs rs rs)

    A Lê trabalha na polícia civil, na área administrativa.

    : )

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  10. Concordo com a Rê, Mulher na Polícia vicia mesmo..srsrrs

    Tb adorei seu blog e vou passar a visitar. :)

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  11. Linda,

    A mulher Bem-Estar já confessou lá que vai começar um curso de formação na área! Acabou de passar no concurso.
    : )

    Viu que responsa a minha?

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  12. Olá passei para conhecer seu blog ele é notº10, espetacular, muito maneiro com excelente conteúdo você fez um ótimo trabalho desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
    Um grande abraço e tudo de bom

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  13. Espetacular!
    Muito bom esse post, apesar que eu mesma não consigo "sofrer só o necessário"...
    bjux

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  14. Caramba...que texto mais forte, fiquei toda arrepiada, quem ja nao sofreu parecido? É uma dor horrivel mesmo, que nos consome e nao nos deixa viver.
    Ainda nao fui la ver que dia foi feito esse post, mas sinceramente espero que a "Mulheres na Policia" esteja bem agora,com ou sem o dito cujo.
    Desculpe minha querida pelo meu sumiço e super agradeço o seu carinho la no blog,mas a mudança me consumiu muito.
    Agora estou de volta!!!!
    Beijocas!!

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