sábado, 30 de outubro de 2010

Um dia, um anjo passou por mim...

No início da minha vida profissional, senti-me atraído em tratar crianças, me entusiasmei com a oncologia infantil. Tinha, e tenho ainda hoje, um carinho muito grande por crianças. Elas nos enternecem e nos surpreendem como suas maneiras simples e diretas de ver o mundo, sem meias verdades.

Nós médicos somos treinados para nos sentirmos "deuses". Só que não o somos! Não acho o sentimento de onipotência de todo ruim, se bem dosado. É este sentimento que nos impulsiona, que nos ajuda a vencer desafios, a se rebelar contra a morte e a tentar ir sempre mais além. Se mal dosado, porém, este sentimento será de arrogância e prepotência, o que não é bom. Quando perdemos um paciente, voltamos à planície, experimentamos o fracasso e os limites que a ciência nos
impõe e entendemos que não somos deuses. Somos forçados a reconhecer nossos limites!
Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional. Nesse hospital, comecei a freqüentar a enfermaria infantil, e a me apaixonar pela oncopediatria. Mas também comecei a vivenciar os dramas dos meus pacientes, particularmente os das crianças, que via como vítimas inocentes desta terrível doença que é o câncer.
Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o sofrimento destas crianças. Até o dia em que um anjo passou por mim.
Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada porém por 2 longos anos de tratamentos os mais diversos, hospitais, exames, manipulações, injeções, e todos os desconfortos trazidos pelos programas de quimioterapias e radioterapia.
Mas nunca vi meu anjo fraquejar. Já a vi chorar sim, muitas vezes, mas não via fraqueza em seu choro. Via medo em seus olhinhos algumas vezes, e isto é humano! Mas via confiança e determinação. Ela entregava o bracinho à enfermeira, e com uma lágrima nos olhos dizia: faça tia, é preciso para eu ficar boa.
Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.
Meu anjo respondeu:
- Tio, disse-me ela, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!
Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem seus heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes,
indaguei:
- E o que morte representa para você, minha querida?
- Olha tio, quando agente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama não é?
(Lembrei minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, costumavam dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim.)
- É isso mesmo, e então?
- Vou explicar o que acontece, continuou ela: Quando nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa cama, não é?
- É isso mesmo querida, você é muito esperta!
- Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!
Fiquei "entupigaitado". Boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento acelerou, com a visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei parado, sem ação.
- E minha mãe vai ficar com muitas saudades minha, emendou ela.
Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei ao meu anjo: - E o que saudade significa para você, minha querida?
- Não sabe não tio? Saudade é o amor que fica!
Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um dar uma definição melhor, mais direta e mais simples para a palavra saudade: é o amor que fica!
Um anjo passou por mim...
Foi enviado para me dizer que existe muito mais entre o céu e a terra, do que nos permitimos enxergar. Que geralmente, absolutilizamos tudo que é relativo (carros novos, casas, roupas de grife, jóias) enquanto relativizamos a única coisa absoluta que temos, nossa transcendência.
Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas me deixou uma grande lição, vindo de alguém que jamais pensei, por ser criança e portadora de grave doença, e a quem nunca mais esqueci. Deixou uma lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores.
Hoje, quando a noite chega e o céu está limpo, vejo uma linda estrela a quem chamo "meu anjo, que brilha e resplandece no céu. Imagino ser ela, fulgurante em sua nova e eterna casa.
Obrigado anjinho, pela vida bonita que teve, pelas lições que ensinastes, pela ajuda que me destes.
Que bom que existe saudades! O amor que ficou é eterno.
Rogério Brandão
Médico oncologista clinico
RC Recife Boa Vista D4500
Cremepe 5758"

Fonte: http://ceciliacastro.multiply.com/reviews/item/376

Foto: www.lufavero.com.br

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Recebi por email essa linda mensagem...

Quando fui pesquisar no Google vi que muitos blogs já divulgaram...

Mas não poderia faltar aqui no cantinho do burro...

Afinal é de emocionar qualquer pessoa a linda definição de Saudade...

Já senti muita saudade na minha vida...

Nessa minha vida de cigana sempre o meu amor ficou em algum lugar...

Mas o melhor é quando a gente literalmente “mata a saudade”...

E eu matei tantas e quando lembro até hoje sinto aquele frio na barriga do reencontro...

Prefiro sentir saudade pois afinal é o amor que ficou...

12 comentários:

  1. A mensagem realmente é maravilhosa!Me emocionei...Sem dúvida temos "anjos" na Terra, seres evoluidissimos espiritualmente!
    Gostei muito...

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  2. Que definição mais linda! É o amor que fica! Gostei da simplicidade e sabedoria de acordar na outra cama, na cama da casa verdadeira! Bjinhos

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  3. Linda mensagem em uma história triste!
    Sem dúvida apenas um anjo poderia explicar dessa maneira sua passagem pela terra!
    Lindo!
    bjux

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  4. Lindo e emocionante!

    Estamos te seguindo!

    Dani e Léo

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  5. Oi Patricia,
    Meus melhores professores sempre disseram que a aula é uma troca. Eles ensinam e também aprendem. É quase um processo mágico, pois no final todo mundo ganha. No caso dos médicos, não deve ser diferente; tratando de pessoas, sempre haverá algo para aprender.
    Esta é uma bela definição para saudade: o amor que fica.
    Abraços!!

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  6. Emocionante. Parabéns aos médicos por essa profissão tão importante e indispensável. E que bom que estes pequenos anjos existem e estão aqui nos iluminando.

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  7. Também recebi esse e-mail. Salta os olhos a sabedoria da menina, cuja idade espiritual sem dúvida é bem maior que a minha.

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  8. Eu conhecia esse texto, mas ele sempre me emociona. Realemnte médicos são treinados p/serem "Deuses" o que os deixa com certa arrogância e desumanidade que muito me incomoda já que dependo deles e por causa de um deles meu filho é tetraplégico. O que posso dizer sobre médicos é que é "um mal necesseario", mas ainda bem que mesmo que a menor parte aonda existem médicos humanos,com coração,alma,vida!

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  9. Lindo, lindo, lindo seu blog...vou seguir.

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  10. "Patrícia"?!?

    Ana... Joana...

    Nunca lidei bem com nomes.
    : p

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  11. Nossa Patrícia, que lindooooo!!!!
    Saudade é o amor que fica...
    Emocionei com a sabedoria desse "serzinho" de luz...
    Quantas vezes a gente esquece de nossa verdadeira casa né?
    Beijo grande querida

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  12. A maioria esmagadora dos médicos, Ana, são insensíveis aos apelos desesperados de seus pacientes e, antes de pensar em ética, só pensam em dinheiro. Ainda bem que a regra não é geral, pois vemos este exemplo. Beijos

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