quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A TANGA VOA...

A história de Jetsun Milarepa(1040 -1123) foi narrada a seu principal discípulo, Rechung. De infância abastada, Milarepa perdeu o pai, doente, aos 7 anos. Quando manifestou seu último desejo, o pai pediu que o menino, sua irmã e sua mãe fossem cuidados pelos tios, que deveriam também administrar todas as posses da família até a maioridade de Mila. Mas a crueldade e a traição tomam conta da história. Os três foram forçados a trabalhar como escravos dentro de sua própria casa, e a herança lhes foi recusada.

Já adulto o suficiente para cuidar de si e de sua família, Mila, foi atrás de um mestre para aprender a arte da magia negra a pedido de sua mãe, que desejava vingança. Aluno dedicado, logo teria aprendido feitiços capazes de criar com a própria mente um escorpião gigante. O escorpião teria destruído a casa de seus tios, que estavam dando uma festa. Ao todo morreram 35 pessoas, entre elas todos os filhos de meu tio.

Milarepa atendeu ao desejo de sua mãe por vingança, mas não sentiu nenhum tipo de satisfação. Na verdade, ele começou a perceber que algo faltava em sua vida...

Ao compreender que a vitória nada lhe trouxera, Milarepa soube que precisava de um mestre para ensinarlhe o caminho para a felicidade.

É aí que Marpa entra na história, o professor a quem dedicou total devoção e com quem sentiu forte conexão até mesmo ao ouvir seu nome pela primeira vez. Em busca dos ensinamentos budistas, ele se entregou de corpo e alma, melhor dizendo, ofereceu seu corpo, voz e mente a seu guru. Para alcançar realização genuína, é preciso identificar-se com a sabedoria do professor e dos ensinamentos, sem edição ou distorção para seus conceitos próprios. E isso Milarepa soube fazer como ninguém. Duvida?

Nas mãos de Marpa, ele passou pelo que os cristãos e a sabedoria popular em geral chamam de pão que o diabo amassou. Marpa o fez experimentar todo tipo de provação. Mas não por capricho. Ao pedir que seu discípulo construísse, desconstruísse e reconstruísse quatro prédios de diferentes formas e em diferentes lugares, estava lhe dando ferramentas para reconhecer e identificar sua própria mente, suas distorções e limitações, e então treiná-la. Foi graças à diligência do aluno em atender aos mandos e desmandos não-convencionais do mestre que Marpa pôde forçar todos os limites de Mila, até que a lógica do ego e do interesse próprio entrassem em colapso. E só então Marpa aceitou conceder-lhe as iniciações e transmissões de ensinamentos que ele tanto queria.

Mila entrou em retiro fechado numa caverna atrás da casa de seu mestre, que o encorajava e nutria com sua sabedoria. Em troca, o iogue correspondia com sua devoção, uma abertura capaz de absorver a verdade da realização da mente do seu professor. Para alcançar seu caminho, Milarepa deixou de lado toda a vida como a conhecemos: toda e qualquer forma de riquezas e prazeres mundanos. E mais até, tudo aquilo que é considerado o mínimo de conforto essencial para se viver: comida, roupas e uma cama quentinha. Parece insano para os padrões habituais do bom senso, mas dentro da verdade budista da impermanência do nosso corpo, da vacuidade de todos os fenômenos, da compreensão de que a mente é livre além dos conceitos, é possível encontrar a felicidade na renúncia de tudo o que se entende por conforto.

Sua mente lúcida, independentemente de todas as situações e provações, era seu maior conforto. Quer um exemplo prático? Sabe aquele dia em que você está bobamente apaixonado e nada tira você do sério, nem o trânsito caótico, nem a fila do banco, nem telemarketing? Sabe aquele dia em que qualquer piada tem graça, a cerveja está na temperatura ideal, a companhia está agradável, o pão está crocante por fora e macio por dentro? Aquela sensação de que tudo dá certo? A diferença, no caso de Mila, é que ele alcançou uma realização tal que não era preciso estar apaixonado para se sentir assim e tampouco esses sintomas agradáveis de bem-estar seriam correspondentes apenas a dias bons. A partir do momento em que sua mente reconhecia todos os fenômenos como ilusórios, fosse o frio, fosse a fome, o mau humor, a preguiça ou qualquer tipo de desconforto, nada disso precisava ganhar um peso extra de uma mente ranzinza.

Quando chegou o momento de abandonar seu mestre e entrar em uma peregrinação solitária, tudo o que levou consigo foi a verdade do que Buda ensinou. Seu alimento era o que quer que lhe fosse oferecido. No princípio, esmolava, como era costume para um iogue, mas logo até esse esforço motivado pelo desejo de atender apenas a uma necessidade própria foi deixado de lado. Quando a única comida que tinha à disposição começou a ser devorada por algumas larvas, seu altruísmo foi extremo a ponto de não julgar sua fome mais importante que a fome delas e foi atrás de outro alimento. Passava dias se alimentando apenas de sopa de urtiga, aquela plantinha que a gente pisa sem querer quando está atravessando um campo de pés descalços e quase morre de dor. Essa plantinha Milarepa colhia, fervia em sopa e comia. Tanto que sua pele começou a ficar esverdeada.

Claro, não era fácil ser Milarepa. Por todo tipo de provação e obstáculo ele passou. Enfrentou demônios como sua própria mente era capaz de manifestá-los. E persistiu. E a cada novo desafio compreendia que sua mente ainda podia ser trabalhada um pouco mais.

Um belo dia Milarepa saiu de sua caverna para recolher um punhado de gravetos para fazer fogo para sua sopa de urtigas. No meio do caminho, um vento bateu a ponto de quase levá-lo aos ares na sua magreza e o fez derrubar os gravetos. Ao tentar recuperar a lenha, sua tanga de algodão se soltou e, na iminência de perder tudo o que tinha para vestir, saiu correndo atrás da sua própria tanga, em meio ao vendaval, tendo perdido seus poucos gravetos para ferver suas urtigas situação que seria um convite a qualquer ser humano pensar em morrer. Já Milarepa, em meio a essa corridinha, se deu conta do ridículo da situação. De que adiantaria tanto meditar se fosse para sair correndo atrás da primeira tanga que se soltasse? Assim, ele deixou a tanga ir e mais um apego da sua mente se dissolver. E transformou uma situação ruim em realização.

FONTE: http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/065/personagem/conteudo_272800.shtml

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Sempre que o materialismo parece querer tomar de conta da minha vida lembro do Mila...

E quando aquela sensação ruim de apego aos bens materiais se aproxima penso na tanga voando...kkkk (Que se vá!!!)

Essa semana fiz uma pequena limpeza em casa e tudo que não usava foi dado...

Parece interessante, mas sem perder nenhum kg eu me senti com uns 10 kg a menos, não no corpo, mas na alma...

Temos o exemplo acima que a vingança realizada não deixa ninguém mais triste ou mai s feliz...

A felicidade se encontra no sentido que encontramos em nossa vida... (filosofando novamente!!!kkk)

Além da tanga que voa eu adorei a idéia de transformar uma situação ruim em realização....

Vamos juntos aprender com o nosso mestre do desapego...

Por isso não vamos correr atrás da primeira tanga que fugir...kkk

No vídeo abaixo temos o Rei do Baião cantando deixa a tanga voar...(é o novo!!!kkk)

7 comentários:

  1. Olá
    Encontrei seu blog por meio do blog da aline que est grávida e adorei seu blog, tem materias muito interessantes e edificantes.

    A de hj por exemplo, foi de grande valia, pois a vezes, mesmo sem querer ou perceber, nos vemos apegados as coisas.

    Jesus diz em sua palavra que devemos buscar em primeiro lugar o reino de Deus, pra nao andarmos ansiosos de coisa alguma e pra atentarmos pras coisas que se não v~e, pois as que se vê são passageiras.

    Sim...deixe a tanga que voe!

    Obrigada pela mensagem

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  2. Pra mim os bens materias só trazem felicidade se tiver alguem com quem compartilhar... se trazer alguma lembrança ou uma paz de espírito ^^
    E essa sensação nao se compra em loja alguma, se conquista, espalhando alegria por aí =D

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  3. kkk. Deixa a tanga voar.kkkk. Muito bom. Oh, meus Deus, quantas vezes eu já não corri atrás da tanga! Mas é vivendo e aprendendo. E essa é a lição mais certa. Nada, a não ser nós mesmos podemos preencher o vazio que de vez em quando sentimos.

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  4. Oi Patricia,
    Eu também tenho que praticar o desapego. Tenho muitas coisas guardadas, que certamente nunca mais serão usadas.
    Você faz bem em dar o exemplo. Agora me falta seguir...
    Abraços!!

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  5. Adorei a história de hoje e mais ainda sua interpretação...
    "Deixa a tanga voar!"...perfeito!
    Eu tenho uma certa "neura" de acumular coisas, vivo fazendo "limpezinhas"...penso que tem que "circular" sabe...vc dá ao próximo, ele ganha, vc atrai mais coisas e assim vai...Já ensino isso aos meus filhos, por isso, em véspera de aniversários ( que as crianças ganham 300 presentes), eles arrumam e fazem uma limpeza comigo e levamos juntos em um orfanato...nas primeiras vezes foi difícil porque são pequenos para entender (não queriam dar nada), mas aí viram a reação das crianças que tinham menos e hoje em dia até os presentes novos eles já querem dar, eles mesmo já separam e falam "mamãe, vamos dar para os amiguinhos brincarem já temos muitos". Além do desapego, se aprende a solidariedade, a enxergar o próximo...
    "A felicidade se encontra no sentido que encontramos em nossas vidas"...Sim!!Certeza!!E só o fato da vida existir, de se estar vivo já é um motivo...
    Burrico, sou sua fã!!
    Beijo enorme!

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  6. Agora também vou ficar com essa imagem da tanga voando (rs)

    Estou atrás de um DVD contando a história de Milarepa, você já conseguiu assistir? Certamente, não mostra a tanga voando...rs

    Bj

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  7. Oie!
    Adorei a mensagem, muito construtiva.
    Para mim o desapego é um item a ser melhorado na minha vida... Tenho a mania de posse e tudo que é meu é meu, muito egoista da minha parte, sei disso... Mas vou melhorar, eu acredito nisso.

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